A medicina antiga até Hipócrates
Minicurso ministrado durante a XI Reunião da SBEC em Araraquara, entre 4 e 7 de outubro de 1999. Resumo dos tópicos abordados durante o curso, mais uma bibliografia básica.
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as épocas houve médicos.
Medicina Primitiva
Refere-se à medicina praticada durante a Idade da Pedra, que se divide em Paleolítico (até
A doença é mais antiga que o homem: as bactérias, que estão entre os principais agentes causadores de doenças, existem há pelo menos 3,8 bilhões de anos. Nosso mais antigo ancestral com evidências de doença óssea era um Homo erectus de
Os homens da Idade da Pedra eram acometidos pelas mesmas doenças que o homem moderno. Eram bons observadores, e descobriram a estrutura e função básica de alguns órgaos, como o coração, e a ação medicinal das plantas, porém atribuíam a causa das doenças a poderes sobrenaturais existentes na Natureza, de alguma forma relacionados à terra e aos animais.
Os primeiros praticantes da Medicina devem ter sido os
Medicina Mítica
Era a medicina praticada basicamente durante a Idade do Bronze
Difusão:
A internacionalização da economia no Mediterrâneo a partir do IIº milênio a.C. permitiu o contato cultural entre as diversas civilizações da região.
Polos:
As civilizações arcaicas que mais influenciaram as culturas européias
Conhecimentos médicos:
— diagnóstico, tratamento e prognóstico já estabelecidos;
— conhecimento exato de muitas afecções de causa visível;
— aplicação de conhecimentos práticos eficazes associados à magia e encantamentos.
Prática médica:
— os sacerdotes-médicos, intermediários entre a divindade e doente;
— regulamentação da atividade médica (Mesopotâmia);
— as primeiras escolas médicas (Egito).
Egito Antigo
Várias divindades relacionavam-se com a medicina; a mais importante foi Imhotep
Misturavam-se conhecimentos empíricos e crenças. O coração era o centro do sistema circulatório,
O estado natural era a saúde, a doença era uma punição divina ou ação dos mortos. Se a causa era visível (uma fratura, por exemplo),
Os médicos de nível mais elevado eram também sacerdotes dos vários deuses. O bom médico seguia sempre os ensinamentos antigos; havia já diversos especialistas, e "escolas médicas" funcionavam em alguns dos inúmeros templos.
Mesopotâmia
Como no Egito, as divindades eram representadas com aspectos humanos e animais, e responsáveis tanto pela doença como pela sua cura (por exemplo: o demônio Pazuzu). O símbolo de um dos deuses, Ningishzida, era duas serpentes entrelaçadas.
O centro das funções vitais era o fígado. Apesar da capacidade de reconhecer doenças, eram muito importantes os sonhos e a adivinhação para o diagnóstico das doenças; o tratamento incluía minerais, vegetais e rituais mágicos para a expulsão dos "demônios".
O sacerdote-médico era sujeito a uma série de leis especiais (código de Hammurabi).
Grécia Antiga
As mais antigas informações provêm das obras de Homeros
A prática médica começou com os
Um dos heróis-médicos, Asclépio, foi divinizado no início da Idade Arcaica e
A Medicina Racional
A medicina racional, não baseada em superstições e mitos, foi uma "invenção" dos gregos antigos. Com o advento dos filósofos
Surgiram então os primeiros indivíduos dedicados exclusivamente à arte da cura. As primeiras referências históricas apontam médicos nas colônias gregas ocidentais e orientais (Magna Grécia, Cós e Chipre) e o mais famoso deles, graças ao historiador Heródoto, foi Demócedes, médico de Crotona (Magna Grécia) que viveu algum tempo entre os persas.
Por volta da metade do século
A Medicina já era uma profissão respeitada, praticada em consultórios e remunerada de comum acordo com o doente, quando ele tinha meios para isso. Não era requerida, todavia, nenhuma qualificação formal, e ao lado de médicos sérios proliferavam muitos charlatães. Devido ao caráter estritamente patriarcal da sociedade grega, somente os homens tinham acesso à profissão. E todos os sofrimentos do corpo eram da alçada do médico, inclusive os problemas odontológicos; além de tratamentos clínicos, geralmente à base de plantas e laxativos, cirurgias rudimentares já eram praticadas com relativo sucesso.
Os dois mais importantes e influentes centros de Medicina no século
A medicina atual, sem dúvida alguma, é ainda uma Medicina eminentemente hipocrática...
A Coleção Hipocrática
está também presente o amor à arte.
O Corpus Hippocraticum é uma coleção heterogênea de escritos médicos em dialeto iônico reunidos ao longo de quase sete séculos. São aproximadamente 60 tratados de temática muito variada, distribuídos em cerca de 70 livros.
Os textos podem ser organizados de várias formas. Além de tratados médicos propriamente ditos, há vários outros tipos: conferências sobre medicina e filosofia, textos para leigos, notas para orientação de alunos, rascunhos, e minutas de discursos. A extensão e a qualidade é muito desigual.Eis uma classificação simplificada:
- Textos de caráter geral:
- 1a - Sobre a arte da medicina
- 1b - Sobre o comportamento do médico
- Textos de conteúdo anatomofisiológico
- Textos dietéticos
- Textos de patologia geral
- Textos de patologia especial
- Textos de conteúdo terapêutico
- Textos cirúrgicos
- Textos de conteúdo variado
- 1a - Sobre a arte da medicina
Os "livros" da Coleção Hipocrática foram considerados os textos básicos da medicina no Ocidente até fins do século XVIII, e somente as modernas descobertas da ciência, a partir do século XIX, suplantaram sua importância nas escolas médicas. O método de abordagem do doente e da doença, os princípios básicos de diagnóstico e tratamento, e mais as bases filosóficas e éticas estabelecidas pela Coleção, todavia, continuam tão atuantes hoje como há mais de 2.000 anos.
Pela variedade de estilos, os tratados hipocráticos foram escritos por diferentes pessoas e em diferentes épocas. Os mais antigos datam provavelmente de
Veja também a apresentação, tradução, comentários e notas ao Juramento Hipocrático, o mais conhecido dos textos da Coleção Hipocrática.
Bibliografia básica
Histórias da medicina
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- Thorwald, J. O Segredo dos Médicos Antigos. São Paulo: Melhoramentos, 2ª ed., 1989
Textos sobre a medicina grega
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Traduções da coleção hipocrática
- Gourevitch, D. e outros. De l'Art Médical (trad. d'Émile Littré). Paris: Librairie Genérale, 1994
- Hippocrates Volumes I-VIII (transl. W.H.S. Jones e outros). London: Harvard
University Press,
1923-1995 - Ippocrate. Testi di Medicina Greca (intr. V. di Benedetto). Milano: Rizzoli, 1983
- Hippocratic Writings (transl. Francis Adams). Chicago: Encyclopaedia Britannica,
1952, (repr. 1980), vol. 10, pág.
1-160 - Lloyd, G.E.R. (ed.). Hippocratic Writings (tranl. J. Chadwick). London: Penguin, 1978
- Tratados Hipocráticos I-VII (C. García Gual, introd.). Madrid: Editorial Gredos, 1983