Balada das coisas desimportantes, de François Villon
François Villon(1431- ?), poeta francês do final da Idade Média, também boêmio e ladrão, é precursor dos “poetas malditos” do Romantismo. Sua Ballade des menus propos data de 1458.
Conheço bem moscas no leite;Conheço o homem pela roupa;Conheço o bom tempo e o mau;Conheço a maçã pela macieira;Conheço a árvore ao ver a goma;Conheço quando tudo é assim mesmo;Conheço quem trabalha ou folga;Conheço tudo, menos a mim mesmo. Conheço o gibão pelo colarinho;Conheço o monge pelo hábito;Conheço o mestre pelo criado;Conheço pelo véu a freira;Conheço quando trapaceiro deita fala;Conheço loucos nutridos de cremes;Conheço o vinho pelo tonel;Conheço tudo, menos a mim mesmo. Conheço cavalo e mulo,Conheço seu encargo e sua carga;Conheço Beatriz e Belinha;Conheço ficha que conta e soma;Conheço a vigília e o sono;Conheço a falta dos Boêmios;Conheço o poder de Roma.Conheço tudo, menos a mim mesmo. Príncipe, eu conheço tudo, em suma.Conheço corados e pálidos;Conheço a morte, que nos consome;Conheço tudo, menos a mim mesmo.
Ballade des menus propos
Je congnois bien mouches en laict ;Je congnois à la robe l’homme ;Je congnois le beau temps du lait ;Je congnois au pommier la pomme ;Je congnois l’arbre à veoir la gomme ;Je congnois quant tout est de mesmes ;Je congnois qui besoigne ou chomme ;Je congnois tout fors que moy mesmes. Je congnois pourpoint au collet ;Je congnois le moyne à la gonne ;Je congnois le maistre au varlet ;Je congnois au voile la nonne ;Je congnois quant pipeur jargonne ;Je congnois fols nourris de cresmes ;Je congnois le vin à la tonne ;Je congnois tout fors que moy mesmes. Je congnois cheval et mulet ;Je congnois leur charge et leur somme ;Je congnois Bietrix et Bellet ;Je congnois get qui nombre et somme ;Je congnois visïon et somme ;Je congnois la faulte des Boesmes ;Je congnois le pouoir de Romme ;Je congnois tout fors que moy mesmes.
ENVOI
Prince, je congnois tout en somme ;Je congnois coulores et blesmes ;Je congnois Mort qui nout consomme ;Je congnois tout fors que moy mesmes.
Referências
De la Monnoye, Bernard; Jannet, Pierre (éd.). Œuvres complètes de François Villon. Paris: Lemerre, 31873, p. 117-8.
Villon, François. Les ballades. Paris: Édouard Pelletan, 1896.
Villon, François. Poesia, trad. Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: EdUSP, 2000, p. 316-9.