Balada das coisas desimportantes, de François Villon

François Villon (1431- ?), poeta francês do final da Idade Média, também boêmio e ladrão, é precursor dos “poetas malditos” do Romantismo. Sua Ballade des menus propos data de 1458.

villon
Desenho de Auguste Gérardin para uma edição (1896, p. 165) da Ballade. Bibliotèque Nationalde de France / Gallica, domínio público

Conheço bem moscas no leite; Conheço o homem pela roupa; Conheço o bom tempo e o mau; Conheço a maçã pela macieira; Conheço a árvore ao ver a goma; Conheço quando tudo é assim mesmo; Conheço quem trabalha ou folga; Conheço tudo, menos a mim mesmo.
Conheço o gibão pelo colarinho; Conheço o monge pelo hábito; Conheço o mestre pelo criado; Conheço pelo véu a freira; Conheço quando trapaceiro deita fala; Conheço loucos nutridos de cremes; Conheço o vinho pelo tonel; Conheço tudo, menos a mim mesmo.
Conheço cavalo e mulo, Conheço seu encargo e sua carga; Conheço Beatriz e Belinha; Conheço ficha que conta e soma; Conheço a vigília e o sono; Conheço a falta dos Boêmios; Conheço o poder de Roma. Conheço tudo, menos a mim mesmo.
Príncipe, eu conheço tudo, em suma. Conheço corados e pálidos; Conheço a morte, que nos consome; Conheço tudo, menos a mim mesmo.

Ballade des menus propos

Je congnois bien mouches en laict ; Je congnois à la robe l’homme ; Je congnois le beau temps du lait ; Je congnois au pommier la pomme ; Je congnois l’arbre à veoir la gomme ; Je congnois quant tout est de mesmes ; Je congnois qui besoigne ou chomme ; Je congnois tout fors que moy mesmes.
Je congnois pourpoint au collet ; Je congnois le moyne à la gonne ; Je congnois le maistre au varlet ; Je congnois au voile la nonne ; Je congnois quant pipeur jargonne ; Je congnois fols nourris de cresmes ; Je congnois le vin à la tonne ; Je congnois tout fors que moy mesmes.
Je congnois cheval et mulet ; Je congnois leur charge et leur somme ; Je congnois Bietrix et Bellet ; Je congnois get qui nombre et somme ; Je congnois visïon et somme ; Je congnois la faulte des Boesmes ; Je congnois le pouoir de Romme ; Je congnois tout fors que moy mesmes.
ENVOI

Prince, je congnois tout en somme ; Je congnois coulores et blesmes ; Je congnois Mort qui nout consomme ; Je congnois tout fors que moy mesmes.

Referências

De la Monnoye, Bernard; Jannet, Pierre (éd.). Œuvres complètes de François Villon. Paris: Lemerre, 31873, p. 117-8.

Villon, François. Les ballades. Paris: Édouard Pelletan, 1896.

Villon, François. Poesia, trad. Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: EdUSP, 2000, p. 316-9.

Villon, François. Poesía Completa, trad. Gonzalo Suárez Gomez. Madrid: Visor, 1979.